Créditos: Regina Guimarães
Créditos: Regina Guimarães

Que venha a rua!

Um sabor a desconsolo requentado

um mais que visto sem rasgo nem faúlha

a vida em morno incolor enevoada.

Pelas rostos perpassa a indiferença

um tanto faz tão espesso que agride

conversa mole de quem já nada espera.

Que venha a rua tirar-nos desta inércia

da morte lenta em vida não vivida

de um dia a dia sem esperança e sem sentido.

É a rua o que nos resta e nos empolga

é nela que de novo somos gente

somos carne nervos sonho e emoção.

Que venha a rua tirar-nos desta afronta

lavar-nos do pecado do medo e do torpor

a rua que nos devolve à dignidade

de voltar a protestar contra o negrume

e de exigir tudo o que temos por direito

e que de novo nos querem confiscar.

A rua onde voltamos a ser gente

a ser carne nervos sonho e emoção

onde possamos reaprender a ter coragem

e a não negar o que sempre perseguimos

onde o amor se faz de arrojo e desassombro

e se cumpre o sonho feito de luta e de razão.

Créditos: Margarida Chagas Lopes