
Que venha a rua!
Um sabor a desconsolo requentado
um mais que visto sem rasgo nem faúlha
a vida em morno incolor enevoada.
Pelas rostos perpassa a indiferença
um tanto faz tão espesso que agride
conversa mole de quem já nada espera.
Que venha a rua tirar-nos desta inércia
da morte lenta em vida não vivida
de um dia a dia sem esperança e sem sentido.
É a rua o que nos resta e nos empolga
é nela que de novo somos gente
somos carne nervos sonho e emoção.
Que venha a rua tirar-nos desta afronta
lavar-nos do pecado do medo e do torpor
a rua que nos devolve à dignidade
de voltar a protestar contra o negrume
e de exigir tudo o que temos por direito
e que de novo nos querem confiscar.
A rua onde voltamos a ser gente
a ser carne nervos sonho e emoção
onde possamos reaprender a ter coragem
e a não negar o que sempre perseguimos
onde o amor se faz de arrojo e desassombro
e se cumpre o sonho feito de luta e de razão.
Créditos: Margarida Chagas Lopes