Poucas greves gerais reuniram tanto apoio na sua convocatória como a da próxima quinta-feira, dia 11. Esta é não apenas uma das poucas ocasiões em que CGTP e UGT se juntam (1988, 2010, 2011 e 2012 contra a devastação social promovida à bruta, primeiro por Sócrates, depois por Passos e troika); ela é a primeira que é apoiada pela União de Sindicatos Independentes, uma associação de sindicatos que não fazem de nenhuma das duas centrais sindicais. Ela é até apoiada dentro da UGT por dirigentes do PSD, que, como se vê, não têm peso algum na definição da política económica e social sempre que o seu partido está no poder. As alterações que o Governo quer introduzir na legislação laboral, ao fim de 40 anos do disco riscado da "falta de flexibilidade", são tão enviesadas a favor dos patrões que um dos ministros-estrela do cavaquismo, Silva Peneda, autor de uma das primeiras grandes machadadas contra os direitos conquistados com o 25 de Abril, classifica a proposta do Governo como "muito inclinada para um dos lados." Adivinhem qual.

A outro dos paladinos da "flexibilidade", Bagão Félix, a proposta do Governo "parece que foi [feita] um bocadinho 'à bruta'". Ao homem que há 23 anos pôs em causa os frágeis direitos à pensão de reforma de gerações de trabalhadores que começaram a trabalhar nas condições muito duras da ditadura, faz "impressão", por exemplo, "que se faça um despedimento coletivo ou por extinção de posto de trabalho e se vá buscar depois, às vezes, os mesmos trabalhadores, numa lógica de trabalho temporário ou outsourcing" (Expresso, 5.12.2025). Que protagonistas no passado da mesma guerra contra quem depende de um salário se sintam hoje ultrapassados pelos acontecimentos, é um bom sinal da radicalização à direita que estamos a viver.

Chega-se ao ponto de se desistir das habituais palavras bonitas sobre a "estabilidade no emprego". Como recorda Leal Amado, professor de Direito do Trabalho, "nunca houve uma norma a dizer: o facto de você não ter tido antes um contrato sem termo permite que continue a ser contratado a termo, tenha você 20, 30, 40, 50 anos e tenha tido antes cinco, dez, 15 ou 20 contratos a termo". Ou seja "pode continuar toda a vida a ser contratado a prazo" (PÚBLICO, 9.12.2025).

Os gestores deste neoliberalismo crescentemente autoritário, feito de "flexibilização" (isto é, esmagamento) dos direitos de quem trabalha e de endurecimento da repressão de quem resiste contra a perda de direitos (ver Loïc Wacquant, Punishing the Poor: The Neoliberal Government of Social Insecurity, 2009), vêm dinamitando a democracia tal qual a julgávamos que conhecíamos. Desde a pandemia de Covid, como aqui venho assinalando, que vêm atacando o direito de greve em todos os serviços públicos, agora nos supermercados ou nos lares de idosos, eliminando, como qualquer ditadura, a possibilidade legal de nos recusarmos a trabalhar para exigir ser ouvidos. Querem poder negar-se a negociar com os representantes dos trabalhadores, querem mesmo impedir a atividade dos sindicatos, num regresso sinistro a 150 anos atrás. Querem alienar definitivamente o trabalhador do trabalho que ele próprio faz, transformá-lo numa peça permanentemente prescindível, substituível por outra mais barata, de uma tal precariedade que nem merece a categoria de trabalhador. A novilingua liberal do "colaborador da empresa" diz tudo: colabora, não participa, não constrói.

Os herdeiros do passismo regressaram ao poder e querem retomar o caminho de intimidação que iniciado há 15 anos. Para eles, trabalha melhor quem tem medo, quem, por isso, obedece e se cala. Quem não exige ser respeitado e se limita apenas a esperar a que, um dia, lhe subam o salário, lhe reconheçam as horas a mais que faz, se lembrem do segundo filho que está para nascer. Que dele se não lembrem quando começarem a despedir. Para esta gente, a democracia acaba quando cruzamos a porta dos nossos locais de trabalho.

Quinta-feira vamos mostrar-lhes, cada um/a de nós, quem somos! A escolha que fizermos dirá tudo sobre nós. Deste lado estaremos os que não temos medo nem prescindimos de direitos e dignidade.